quarta-feira, 1 de julho de 2009

O QUE SHAKESPEARE PENSA DE FIGURAS COMO ZÉ SARNEY

Na peça Noite de Reis, é o nada bobo Feste quem observa: “Uns nascem grandes, alguns adquirem a grandeza, e a outros, a grandeza vem ao encontro”. José Sarney se enquadra na terceira categoria, a dos que atingiram a grandeza pela sorte. O ex-chefe do partido político que legitimara a ditadura militar – o fantoche dos generais - por uma fatalidade tornou-se Presidente da República do Brasil. Thomas Hobbes diz, no Leviatã, que há no homem um desejo perpétuo, incessante, de poder que não cessa senão com a morte. Ele estava pensando em Macbeth e Ricardo III, personagens do seu contemporâneo Shakespeare. Sir Ney se enquadra nesses exemplos. A ocupação do cargo supremo da nação por cinco anos, em vez de deixá-lo saciado, aumentou seu apetite. Seu governo foi um completo desastre: acusado de grossa corrupção; levou o país a maior inflação de sua história; suspendeu o pagamento da dívida externa e quebrou o país. Só conseguiu terminar seu desastroso mandato porque a nação precisava desesperadamente se livrar do fantasma dos generais. Finda a tragédia, Sir Ney não se retirou, voltou ao Senado por um outro “feudo”, o do Amapá, entregando o do Maranhão para os filhos, criando uma dinastia. Representante legítimo das Capitanias Hereditárias, malfadada herança colonial portuguesa- criadas pelos lusos para perpetuar a família no poder. Sir Ney cumpriu a risca esse sistema. Há cinqüenta anos controla – salvo um rápido interregno – a rica capitania do Maranhão, “aquela onde nunca falta água”, dizem invejosos todos os nordestinos. No entanto, é o estado com os piores índices sociais do país, rivaliza com outra unidade “feudal”, Alagoas. Aqueles que acham que Sir Ney vai abandonar a presidência do Senado por ser o maestro do maior escândalo da história da República - não estou exagerando - estão enganados. Nada o tirará de lá. A onipotência e a incompetência são a mãe de seus desmandos. Ele está convencido de que é inocente. Esse é seu estado natural. A única coisa que lhe interessa é a proteção do seu clã. Sir Ney é o emblema do atraso, um velho coronel do Brasil antigo bafejado pela sorte. O avanço das idéias políticas e o aprimoramento das instituições republicanas não chegaram até ele, mesmo que a “constituição cidadã” tenha sido promulgada em seu triste governo. Sir Ney deveria ter seguido o correto exemplo de Fernando Henrique, que ao deixar a presidência foi cuidar de sua fundação. Os britânicos dão o título de “Sir” aos seus cidadãos mais respeitáveis. Títulos que quase ninguém usa mais. Zé Sarney não se enquadra nesse perfil. Ele é um “Sir” medieval. Estou usando uma ironia, já que era assim que os servos chamavam os barões na Idade Média. Mesmo assim o título é elogioso, ele não o merece a não ser pela semelhança com o seu patronímico. Se: “A honra anda por um caminho tão estreito, que por ele só passa um, de frente”, como afirma Shakespeare, Sir Ney não passará por esse caminho. O fim de Sir Ney já chegou, é esse aí, o da desmoralização. É o mesmo que prenuncia o tirano Macbeth: “Já vivi o bastante; o caminho; o caminho de minha vida está declinando em direção do outono de folhas amareladas e tudo quanto sirva de escolta à velhice: o respeito, o amor, a obediência, o apreço dos amigos, não devo procurar tê-los. Em troca virão maldições recalcadas, mas profundas homenagens de adulação, murmúrios que o pobre coração quisera reprimir e não se atreve a recusar”. Eis a nossa vingança!

Por Theófilo Silva

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